O director do Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda (IPGUL) defendeu a preservação do património arquitectónico moderno construído entre 1950 e 1970, face à degradação de muitos edifícios daquela época, comparados a “musseques em altura”.
H élder José falava à imprensa à margem das Jornadas de Reflexão sobre Arquitectura do Movimento Moderno, realizada hoje em Luanda pelo IPGUL, com contributos de especialistas estrangeiros, nomeadamente de Portugal e do Brasil.
“Há muitos edifícios construídos em Luanda, mas muitos mesmo, que são dessa época e que estão muito degradados por conta da utilização das pessoas”, afirmou o responsável, acrescentando que muitos deles parecem “musseques em altura”.
“Então é preciso pensarmos de que maneira conseguimos construir estratégias que nos levem a pensar como recuperar este património”, referiu.
O responsável disse ainda que o papel do IPGUL na sensibilização para a preservação e protecção do património arquitectónico “tem sido de certa maneira um bocado difícil” face aos vários atores intervenientes na dinâmica das sociedades.
O património arquitectónico moderno de Luanda refere-se a construções concebidas por jovens arquitectos portugueses, há cerca de meio século, em antagonismo com os padrões dominantes do regime vigente e que marcaram a nova era de modernidade da cidade.
“Fundamentalmente, quando o binómio político e económico se junta, e muitas vezes o lado técnico não tem capacidade de fazer intervenção com esses dois lados, passando exactamente a mensagem didáctica, muitas das situações podem acontecer como estão a acontecer hoje em dia”, disse ainda Hélder José.
“É preciso que nós técnicos, tenhamos uma capacidade muito estratégica de conseguir mobilizar o político para esta causa, fazer com que o político entenda este exercício, que é um exercício colectivo (…) e que por outro lado, não pense que há aqui uma guerra e que pretende-se evitar aquilo que às vezes é uma intenção económica”, frisou.
Segundo o director-geral do IPGUL, um conjunto de edificados foram já classificados património pelo Ministério da Cultura, contudo muitos outros carecem de alguma atenção face à degradação que os mesmos apresentam.
Sublinhou que muitos destes, depois de realizados levantamentos estruturais, deverão ser demolidos, por não garantirem condições para a sua recuperação.
“Uma recuperação de um edifício com estas condições os custos são muito altos, mas há uma tipificação que deve ser feita para se saber o nível de intervenção do ponto de vista da preservação e este exercício acontece muito no mundo, manter-se a fachada mas o interior ser completamente moderno”, sugeriu.
“Há edifícios que estão em risco de desabamento eminente e são edifícios exactamente deste período da arquitectura de movimento moderno”, disse Hélder José, avançando que decorre um trabalho de identificação dos mesmos para tipificar a tipologia do dano que o edifício tem actualmente.
Por seu turno, a docente universitária Maria Manuela da Fonte, da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, reconheceu que o processo de manutenção e preservação não é um exercício simples, porque os edifícios estão habitados.
“E nessa qualidade é preciso ter todo o cuidado que estas coisas necessitam para a preservação ser feita”, aconselhou a arquitecta portuguesa, acrescentando que este um trabalho conjunto das academias e ordens profissionais.
“Essa questão não é de fácil resolução, porque foram muitos anos em que o edificado não teve conservação. Os edifícios precisam de manutenção, não tendo havido, ora, eles sofreram uma degradação natural, que o tempo oferece a todos nós”, destacou.